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O QUE É CORDEL?

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Eduardo Azevedo

Você já deve ter ouvido por aí que a Literatura de Cordel recebeu esse nome porque os folhetos eram pendurados em cordões ou barbantes nas feiras do Nordeste, né? Pois é... essa ideia ficou famosa, mas não é exatamente verdadeira.

Na prática, não há registros históricos confiáveis de que os poetas populares no Brasil tenham vendido seus folhetos pendurados. O mais comum era ver esses livrinhos organizados em maletas de madeira, caixas, ou sobre lonas no chão das feiras.

Eles eram chamados de "versos", "romances", "folhetos" ou simplesmente "livrinhos" — o termo "cordel" nem fazia parte do vocabulário desses autores até meados do século XX.


Então, de onde veio esse nome?


Tudo indica que foi o pesquisador francês Raymond Cantel, ao visitar o Brasil na década de 1950, quem fez essa associação. Ele achou que os folhetos populares daqui lembravam os livretos que via pendurados em barbantes na Europa — chamados por lá de “colportage”, “cannards” e a “biblioteca azul” A partir disso, passou a usar o termo “literatura de cordel” para se referir à poesia impressa que encontrou por aqui. E o nome pegou. Mas atenção: os livretos europeus eram de outro tipo — geralmente textos religiosos, moralistas ou panfletários — e não tinham a mesma forma, linguagem ou função social da nossa poesia popular nordestina.

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Hoje, muitos pesquisadores preferem chamar essa arte pelo que ela realmente é: uma literatura brasileira, com raízes próprias, fruto da mistura de oralidade, tradições populares, ritmo, rima, e muita criatividade.

Para a estudiosa Márcia Abreu, por exemplo, o cordel brasileiro não é uma continuação direta da tradição portuguesa, mas uma manifestação cultural única, nascida do encontro entre diferentes influências: indígenas, africanas, europeias e árabes.


Além disso, o cordel é reconhecido como um gênero textual com estrutura própria e fixa. Ele se organiza em versos ritmados e obedece a regras claras — como o uso do tripé rima, métrica e oração — que dá forma à narrativa e encanta pela sonoridade e equilíbrio. Cada estrofe é pensada com precisão, e isso também faz parte da beleza dessa tradição.

E como bem disse a poeta e pesquisadora Fanka Santos, o cordel é múltiplo. É mais que oralidade, é também literatura, e possui nítido caráter político e pedagógico. Desde seus primeiros passos no Brasil, fortaleceu-se como uma manifestação contra-hegemônica — e continua, até hoje, como uma das vozes mais potentes da cultura popular brasileira!

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