NILZA DIAS | Sudeste
- Cordel de Mulher

- 5 de set.
- 2 min de leitura
Nilza Dias é cordelista, professora e escritora, nascida em Guarujá/SP e criada no interior da Bahia, onde se enraizou na tradição da cultura popular. Autora de quase duas dezenas de títulos, destaca-se por recriar clássicos literários em cordel e por dar voz à força feminina em sua poesia.
Nilza Dias nasceu em Guarujá/SP em 1963, e foi criada no interior baiano onde bebeu na fonte da cultura local com destaque para a Literatura de Cordel. Radicada na Grande São Paulo (1996), graduada em Pedagogia e Letras, é professora da rede pública.
Como cordelista, tem quase duas dezenas de publicações como Multidão Solitária, Luas de Mulher, A Lenda da Cachorra Helena, Ditos Populares em Cordel, dentre outras, de uma versão rimada do romance Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, pela Editora Florear Livros( PNLD de 2024) e uma, ainda no prelo, do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, (Coleção Clássicos em Cordel).
Contatos:
@nilza.dias2018
nilza2013.dias@gmail.com
CAÇA ÀS BRUXAS Caça às bruxas não passou
De grande desfaçatez,
De perseguição atroz,
Cúmulo de estupidez,
A verdade é que a mulher
Não podia era ter vez.
Sob o estigma de bruxa,
Foram tantas inocentes
Que morrem torturadas
Pelas mãos dos inclementes
Água, fogo era o destino
Das mulheres diferentes.
Então entraram na lista
Quem tinha propriedade,
Um bom rancho, boa água
Ou com grande habilidade,
As bonitas também eram
Alvo da grande maldade.
Mandavam para fogueira
A mulher que aparecesse
Por sua capacidade,
Seu valor recrudescesse,
Logo era determinado
Que no fogo perecesse.
Muita alta, muito magra
Ou muito rica também,
Se acaso nascesse ruiva
A vida não ia além,
Diziam, pois, que era a luta
Do grande mal contra o bem.
Uma marca de nascença,
Dom com fitoterapia,
Aquela introspectiva
Certamente perecia,
Por se mostrar muito estranha
Ao que a época exigia.
Mas outras habilidades
Também eram perseguidas,
Aquelas ágeis na dança
Ligeiro eram percebidas,
Tinham seu fim decretado,
Portanto, estavam perdidas.
Mulheres com boa voz
Que gostassem que cantar,
Os olhos vis do terror
Passavam a avaliar,
Com ímpeto de maldade
Faziam a voz calar.
Sendo atiradas na água
Para serem afogadas,
Mas se soubesse nadar
E emergissem, as coitadas
Não escapavam, pois tinham
Veredito de culpadas.
Outra forma de matá-las
Era jogar de um penhasco,
Ou por num buraco fundo,
Não faltava era carrasco!
Relembrar esse período
Provoca ojeriza e asco.
Que essa minha reverência
Vá o mais longe que puder.
Transforme em reparação,
Cuja lembrança requer.
O mundo não queimou bruxa,
O mundo queimou mulher!
NILZA DIAS | Sudeste


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